É carnaval em Oruro. Mas um carnaval diferente. Em vez de samba e mulheres desnudas, o que se vê pelas ruas são desfiles de pessoas com máscaras representando o que os padres espanhóis descreviam como o diabo, na época em que o império Inca foi convertido, a ferro e fogo, ao catolicismo. Apesar das danças, chamadas "diabladas", terem sido proibidas pelos colonizadores no século XVII, acabaram revivendo, e desde a década de 40, no mês de fevereiro, os índios fazem máscaras de gesso pintadas de cores fortes, de feições horrendas, com chifres retorcidos. Há pelo menos 20 grupos organizados na cidade. As mulheres desfilam com suas roupas coloridas. Muitas exibem colares, anéis e brincos de ouro e prata. A diablada não existia antes dos espanhóis chegarem. Ao aprenderem com os padres que o diabo habitava as profundezas da terra e Deus o céu, os índios, pressionados a acharem veios de ouro e prata, e depois a trabalharem nas minas em condições precaríssimas, acharam natural manter relações pelo menos cordiais com quem, desde a criação do mundo, já morava lá. Nas últimas décadas esta crença virou folclore e motivação para uma festa alegre e colorida, que mobiliza cerca de 10 mil foliões e atrai turistas de todo país. Mesmo assim, encerradas as diabladas, todos correm à catedral dedicada à Virgem da Candelária, sucessora da Pachamama das suas tradições ancestrais, para pedirem perdão.
Peças teatrais em que Deus acaba vencendo o demônio ou o Arcanjo Miguel derrota Lúcifer, que também servem para aliviar a consciência culpada dos foliões, completam os 10 dias e 10 noites de festas ininterruptas, embaladas pela excelente cerveja Paceña.
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