sábado, 11 de dezembro de 2010

NAS ASAS DO CAN

“Sou brasileiro e não tenho condições de comprar uma passagem para voltar para o meu país. Quero ser repatriado.”

Não foi preciso argumentar, nem pedir ou implorar – eu estava preparado inclusive para aceitar a pena da perda do direito a um passaporte, imposta aos repatriados. O secretário da embaixada brasileira em Quito, um senhor alto e magro, óculos de lentes grossas, me interrompeu e explicou, com a calma dos diplomatas entediados, que a solução para o meu caso era bem mais simples. Dali a duas semanas chegaria à capital equatoriana um avião do Correio Aéreo Nacional (CAN) , da Força Aérea Brasileira, que todos os meses pousava nas capitais dos países dos três continentes para transportar as malas postais oficiais até Brasília e o Rio de Janeiro. O avião tinha poltronas, e ele não só poderia me conseguir um lugar como me dar uma ajuda em dinheiro para me manter até o embarque. Preencheu o formulário de embarque e um recibo de 1.200 sucres, que eu assinei. Me deu três notas de 100. Caramba, que cara de sorte: uma viagem de graça até o Rio, mais uma graninha para gastar. Desci as escadas me sentindo como se tivesse ganho na loteria.

Voltei para casa, em Otavalo, de ônibus - me dei ao luxo de regatear um desconto no preço da passagem com o motorista/cobrador/dono do veículo. Cheguei com pacotes de comida e bebida,e fizemos uma festa com o dinheiro da embaixada. Um brinde ao senhor secretário, que embolsou 900 sucres à minha custa!


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