sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

DAS MONTANHAS(E O FRIO) PARA O MAR (E O CALOR)

Mais um racha. Os cariocas Paulinho e Gastão deixaram o ônibus para ir a Macchu Picchu. Nara foi junto com Gastão, e assim restaram apenas quatro dos onze que saíram de Salta. Da turma de Porto Alegre ficou apenas o Dodo. Em Arequipa ainda havíamos ganhado algum dinheiro cantando nas praças, mas daí para a frente teríamos que arranjar outro jeito de sobreviver. Aprendemos a fazer colares de cravos de ferrar cavalos (semelhantes a pregos, mas chatos, com cabeças grandes, de forma quadrada). Dobrávamos os cravos com alicates e amarrávamos dois ou três com barbante ou arame bem fino.
Na nossa "casa" o clima melhorou bastante. Régis estava eufórico por voltar a ver uma praia de mar, depois de dois meses de frio. Dodo e Pedro, tranqüilos, nunca causaram problemas. Revisamos o ônibus, enchemos o tanque e começamos a descer a cordilheira. À medida que a altitude diminuía, o calor aumentava. Tiramos os casacos, depois os blusões, e bem antes de chegarmos à praia já estávamos de calção e sem camisa, batendo bola no corredor do ônibus.
Nosso destino era o balneário de Mejía, próxima ao porto de Mollendo, onde a classe média e alta de Arequipa tem casas de veraneio. Ao estacionarmos, na beira da praia, fomos cercados pela gurizada, encantada com aquela novidade num final de temporada tedioso. Voltar a sentir calor e ouvi as ondas do mar nos deixou eufóricos. A pelada começou alí mesmo - nós contra os peruanos. Régis, o Touro Sentado, logo virou ídolo da turma. Eu, loiro e pálido por tantas semanas sem sol, fui imediatamente apelidado de fantasma.
Ficamos em Mejia por duas semanas. Nossos colares de cravos fizeram o maior sucesso, mais por serem diferentes do que pela beleza ou durabilidade (refizemos vários que se desconjuntaram depois de um ou dois dias de uso...). Trabalhávamos à noite, e de dia vendíamos tudo que havíamos feito. Esgotamos os estoques de "clavos de herraje" das ferragens de Mollendo. Ganhamos um bom dinheiro, com a vantagem de que éramos poucos e lá não havia drogas para comprar. Comemos e bebemos muito bem, nos divertimos muito com a moçada. Só não tomávamos banho de mar longos porque a água do Pacífico é gelada em toda a costa do Pacífico, do Chile ao Equador, devido à corrente Humboldt, que sobe direto da Antártida. Nossa festa terminou com o fim da temporada de veraneio. Já era março, as aulas recomeçaram e a praia ficou vazia. Era hora de partir.


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