domingo, 12 de dezembro de 2010

SEM O GRILO, A VIAGEM CONTINUA

Cumprida a sua missão, o Grilo Boca de Ouro – ou o que restava daquele motor-home que iniciara a viagem equipadíssimo e agora estava depenado, sem condições de rodar – só esperava o embarque de seus antigos donos de volta para o Brasil para a merecida aposentadoria. Com a ajuda da embaixada brasileira, havia sido doado para um Clube de Caça e Pesca de Lima.
Numa dessas idas à embaixada, em que também tratava de sua inclusão num vôo do Correio Aéreo Nacional para o Rio de Janeiro, Dodo encontrou dois amigos de infância de Cachoeira do Sul, Pedro Port e Mário André Coelho de Souza, o Dedeco. Eles haviam sido roubados no Chile, e estavam sem dinheiro nem documentos. 

Queriam continuar na estrada – haviam saído há pouco tempo de Porto Alegre - , mas estavam  se conformando em desistir, a menos que algo inesperado acontecesse. Conseguiram novos passaportes, vieram com Dodo conhecer a turma do ônibus e fomos apresentados. Estávamos na mesma situação: eu também não tinha dinheiro, nem companhia para continuar viajando, pois todos que estavam comigo já haviam arrumado as mochilas para voltar. Pior: ainda não havia me recuperado da desastrada experiência com Artane.

Batemos um bom papo, descobrimos afinidades, houve empatia imediata. Pedro, dez anos mais velho que eu, poeta e formado em filosofia, e Dedeco, estudante de sociologia e fotógrafo, da minha idade, também estavam curtindo cada momento daquela descoberta do continente sul-americano. Peguei o vilolão, comecei a cantar, e a solução surgiu: eu poderia cantar e ganhar dinheiro para irmos em frente, os três. Naquela tarde começou uma parceria que depois virou amizade e uma relação fraterna que sobreviveu, nos meses seguintes, às piores dificuldades.

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