sábado, 11 de dezembro de 2010

UM VETERANO DE GUERRA ENFRENTA AS MONTANHAS

Uma semana depois, lá estava eu novamente no aeroporto, esperando o meu avião. Quando ele se aproximou e lentamente estacionou na frente da sala de embarque, senti um calafrio. Além de ser um modelo já fora de uso há muitos anos pelas empresas comerciais, estava com parte da fuselagem e das asas sujas de fuligem e óleo. A imagem era de dar medo.

O DC6, quadrimotor a hélice com capacidade para 70 passageiros e velocidade máxima de pouco mais de 500 km/h, foi projetado pela norteamericana Douglas no final da década de 40 e brilhou na Guerra da Coréia, repetindo o sucesso de seu irmão mais velho, o bimotor DC3, na Segunda Guerra Mundial. Nos anos 60 já havia sido substituído pelos jatos DC8.

Sentei numa poltrona vaga na janela, junto da asa. De lá, vi a fumaceira que saiu dos motores ao serem ligados. O barulho era muito forte, mas deu para ouvir o piloto dizer pelo alto-falante que nosso vôo para o Rio teria escalas em Guayaquil, no Equador, em Manaus, onde pernoitaríamos, e em Brasilia. Dois dias de viagem. E não haveria serviço de bordo.

Uma barata passeava tranqüila pelo teto quando taxiávamos em direção à cabeceira da pista. No percurso, percebi que o aeroporto estava cercado de montanhas. Rezei para que os motores não falhassem na decolagem. E não falharam. Exigidos ao máximo, faziam toda a cabine vibrar. Conseguiram tirar o aparelho do solo pouco antes do final da pista. Mas aí surgiram as montanhas. Em vez de ganhar altura num ângulo próximo a 40 graus, como os jatos, o nosso DC6 subia lentamente, aos trancos. Olhei em volta, e os cerca de 20 passageiros (quase todos vinham de escalas anteriores) pareciam tão apavorados como eu. Até que passamos por cima de um cume, e o avião estabilizou. O ruído e os tremores diminuíram bastante. O resto da viagem até Guayaquil foi tranqüila, e decolamos sem sobressaltos ( a cidade fica ao nivel do mar) rumo a Manaus.



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