sábado, 11 de dezembro de 2010

VIDA, DURA VIDA

No dia marcado para o embarque, lá estava eu no aeroporto de Quito, com minha mochila e o violão. No guichê do CAN me deram uma ficha de papelão onde constavam os dados básicos - nome, destino, dia e horário da partida. Ansioso, fiquei colado ao vidro da sala de embarque, vendo a chegada e saída de aviões. Só que o meu não apareceu. Depois de uma hora, um funcionário informou que o vôo havia sido cancelado por problemas técnicos com a aeronave. A embaixada informaria qual a nova data do vôo.

Resignado, voltei para Otavalo.

A decisão de voltar foi tomada por mim sem discussões, numa das minhas caminhadas matinais. Eu me sentia cansado daquela vida de cantar, ganhar moedas, comer, dormir, cantar de novo, ganhar moedas, cantar, cantar. A minha fome já não era mais saciada depois de uma refeição. Endêmica, me acompanhava ao longo dos dias. Já não havia mais sentido em continuar. Por mais que fumasse, não conseguia mais delirar com lances mágicos que me levassem à Califórnia, à Europa, a cruzeiros em navios pelo mundo. A real era que estava na hora de recomeçar. A faculdade, a carreira de jornalista, a vida. A dura vida no Brasil da ditadura militar.


Nenhum comentário:

Postar um comentário