sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

CHURRASQUINHO DE LLAMA NO ALTIPLANO

Long and winding road


No trecho entre o norte da Argentina e o sul da Bolívia, a rodovia Pan-Americana, que liga a Patagônia ao México, era uma estrada de chão, estreita e perigosa, cavada nas encostas das montanhas. A cada quilômetro havia espaço para permitir a ultrapassagem caso dois veículos se cruzassem. As pontes eram raras. Os riachos de leitos pedregosos tinham que ser atravessados na base da fé em Deus e pé na tábua, e às vezes era difícil reencontrar a estrada no outro lado.
Mas não tínhamos pressa, deslumbrados com o cenário de montanhas e vales, vilarejos indígenas bolivianos onde poucas pessoas falavam o espanhol, apenas o quechua (num deles tivemos dificuldade em conseguir gasolina, até que encontramos alguém que nos entendia).
Tudo era novidade. Parávamos para almoçar e descansar em lugares bonitos, junto a regatos, onde depois lavávamos os pratos e panelas. Nos pueblos éramos recebidos como celebridades, mas tivemos que desistir da idéia de ganhar algum dinheiro cantando ou praticando pequenos furtos em mercadinhos pois o povo era muito pobre.
A altitude das montanhas, medida em milhares e não em centenas de metros, subverteu minha noção de profundidade e de distância. Lá do alto era possível enxergar dezenas de quilômetros ao redor, montanha após montanha, em todos os tons do verde (as mais próximas) ao azul (as mais distantes).
Chegar ao altiplano boliviano, depois de tantas subidas e descidas, foi um alívio. Superamos problemas mecânicos com bom humor. Estávamos eufóricos, apreciando a nova paisagem a mais de três mil metros de altitude, quando surgiu uma manada de llamas. Régis gritou: vamos fazer um churrasco de llama!
Cansados da dieta à base de macarrão, apoiamos imediatamente a proposta. Pulamos a cerca baixa e saímos correndo, com cordas para tentar laçar uma delas. Talvez até conseguiríamos, mas... fomos vencidos pela falta de oxigênio. Em poucos minutos, um a um de nós parava, ofegante. Alguns sangravam pelo nariz. Tivemos que seguir viagem, enquanto as llamas continuavam pastando, placidamente.


Nenhum comentário:

Postar um comentário