sábado, 11 de dezembro de 2010

SALSA, CÚMBIA E GEMIDOS NA MADRUGADA

“Cali, sucursal del cielo”. É assim que a cidade, situada às margens do rio Cauca, num belíssimo vale que corta a Colômbia no sentido norte-sul, se apresenta aos visitantes. Auto-estima é o que não falta aos moradores desta região de clima quente, onde o som da salsa, da cúmbia e outros ritmos caribenhos ressoa dia e noite, em todos os lugares.

Chegamos a Cali viajando uma noite inteira deitados em cima de sacos de milho, num caminhão coberto. Foi a única carona que pintou, em quatro dias de tentativas. No quarto dia, os suecos nos emprestaram dinheiro para comprarmos passagens de ônibus – acho que estavam fartos daqueles brasileiros famintos, e fizeram uma vaquinha para se verem livres de nós. Mas demos sorte, conseguimos uma carona e poupamos o dinheiro que nos deram.

Depois da fria (em todos os sentidos) Pasto, chegar numa cidade agitada, alegre, de belas mulheres morenas e extrovertidas nos deu uma nova energia. Passeamos pelas ruas e praças, cantei e ganhei alguns trocados, comemos, bebemos e recuperamos o nosso bom astral. Foi o meu primeiro contato com a salsa e com o modo de viver dos povos do Caribe.

No dia seguinte iniciamos a viagem para Bogotá, numa boa camionete. As janelas enormes permitiam a visão panorâmica do vale, com as plantações das encostas, as florestas, os vilarejos. Anoitecia quando chegamos a Armenia, cidade a meio caminho da capital colombiana. Fomos procurar um hotel barato – muito barato. Era um prédio de madeira, de dois andares, e o quarto nos pareceu excelente para passar uma noite. Eu estava cansado e não custei a pegar no sono. Acordei lá pelas 11 horas com o tum – tum–tum, ta-ta-ta de cúmbias e salsas, amplificados por mil alto-falantes. Olhei pela janela e vi que o povo estava todo na rua, bebendo e dançando. Era sábado, e ninguém parecia a fim de ir para casa.

Mesmo assim, tentamos dormir . Eu cochilava quando ouvi um barulho de porta abrindo e fechando. Alguns murmúrios em voz baixa e “ahhh, annnh, annnhhhh, amorcito, querido, anhhhh, anhhhh”. Enfim, aqueles sons emitidos por um casal transando. Menos de meia hora e slam, a porta fecha, fica só a cumbia, a salsa, as risadas e conversas da rua. Já é madrugada. Outra vez a porta se abre, fecha, “anhhh, anhh, anhhh”. Outro casal. Pouco depois outro, e outro. E a salsa, e a cúmbia. Não deu para dormir.

Pior: não dançamos a salsa e não trouxemos nenhuma colombiana para o quarto. Ficamos só ouvindo os gemidos, através das paredes de madeira. Anhhh, anhhhh, anhhhh....amorcito...

Levantamos de manhã mortos de sono.


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