sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

NA FRONTEIRA DA BOLÍVIA


Lígia Sávio e Milton Kurz saíram depois de nós e nos alcançaram em Salta para continuarmos juntos. Pouco tempo depois, Milton adoeceu e os dois tiveram que voltar para Porto Alegre. 


Atravessar a fronteira de um país para outro tem sempre uma carga de tensão. Passar pelos controles aduaneiros com um motor home lotado de jovens cabeludos e barbudos exigia cuidados que iam além de ter os documentos em ordem. De Salta a San Salvador de Jujuy, na fronteira da Argentina com a Bolívia, passamos o tempo todo discutindo como faríamos para ganhar as boas graças dos funcionários bolivianos.
Em janeiro de 1972 a Bolívia ainda vivia o impacto do golpe militar do general Hugo Banzer, que, com apoio americano, claro, impôs ao país um regime ultradireitista. Decidimos conquistar o inimigo. Ao chegar a Jujuy, fizemos uma faxina caprichada no Grilo, concluída com um tubo inteiro de aromatizante para tirar qualquer cheiro suspeito do ar. Todos tomaram banho e fomos ao consulado boliviano, responsável pelas concessões de vistos de entrada. Pedimos para falar com o cônsul, e o convidamos para entrar no ônibus. Explicamos que éramos estudantes brasileiros em viagem de estudos pela América do Sul em nossas férias escolares, financiadas por nossos pais.
O cônsul era militar, e, depois de alguns minutos de conversa, confidenciou, orgulhoso, que pertenceu ao batalhão de "rangers" que prendeu e matou Che Guevara. Deve ter simpatizado conosco, pois, apesar de observar, divertido, que nas fotos dos passaportes tínhamos cabelos cortados, liberou nossa entrada na Bolívia sem pagamento de taxas.



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