domingo, 12 de dezembro de 2010

VIAGEM NO MEIO DO VULCÃO, NO MEIO DO MUNDO

Redwood entrou em casa esbaforido.
''Vamos passar dois dias isolados numa ilha de um lago dentro da cratera de um vulcão. Uns amigos americanos alugaram a ilha e nos convidaram para ir com eles. Já providenciaram em tudo. Só precisamos levar os cobertores pra passar a noite.''
Em meia hora estávamos num ônibus rumo ao lago Cuicocha, do outro lado do vale, a 14 quilômetros de distância. O zelador da área pertencente ao governo nos esperava na margem e nos levou em sua barca até uma das duas pequenas ilhas desabitadas. Ficou combinado que ele voltaria para nos buscar no fim da tarde do dia seguinte. Caminhamos até uma das três casas construídas para turistas, e nos instalamos.
Realmente os três americanos, em viagem pelo continente, haviam providenciado em tudo – dos sanduíches aos comprimidos para purificar a água. Fizemos um lanche e depois de fumarmos inúmeros baseados saímos para conhecer a ilha. A maior parte dela tem vegetação baixa, com uma parte de mata fechada. Colhemos flores silvestres, recolhemos lenha e voltamos para apreciar o final da tarde. Sentados na frente da casa, curtimos o efeito da luz do sol sobre as paredes de pedra multifacetada do vulcão e na água translúcida do lago, que mudava de cor de acordo com a passagem dos raios solares.
Quando escureceu, entramos em casa acendemos a lareira para nos aquecer – fazia frio e chovia. A casa se encheu de fumaça, que se recusava a sair pela chaminé e fazia nossos olhos arderem. Ficamos conversando e vendo o tarô, à luz de velas. As cartas indicaram para mim uma grande aventura, com muita sorte e felicidade.
No dia seguinte levantamos cedo, e em vez de café da manhã tomamos ácidos – três doses e meia para cada um. Fiquei um pouco assustado – nunca tinha tomado mais de uma dose. Um a um fomos saindo, e quando me dei conta estava sozinho, no meio do campo, junto do lago. Sentei e me deixei envolver pelo silêncio e pela beleza do lugar. O sol tornava mais vivas as cores das flores, da mata, das encostas cultivadas e do pico nevado do Cotacachi. As paredes do vulcão me cercavam por todos os lados. Me senti como se estivesse dentro de um umbigo, um marco zero sobre a linha do Equador a partir do qual a terra se dividia em norte e sul, leste e oeste.
Levantei e comecei a caminhar lentamente, imerso numa profunda reflexão. Por alguns instantes, pude me ver meu corpo, como se eu fosse outra pessoa. Meu espírito pairou a alguns metros de mim, para em seguida se reincoporar. Comecei a andar mais rapidamente, e ao chegar à casa onde estavam os outros contei o que havia me acontecido. Me explicaram que eu havia tido uma alucinação, comum a quem toma LSD, mescalina e outros alucinógenos, ou a quem é profundamente espiritualizado, como os monges de algumas religiões orientais.
O tarô estava certo. Foi mesmo uma grande aventura.

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