domingo, 12 de dezembro de 2010

VALLE DEL CHOTA, UM PEDAÇO DA ÁFRICA

Comecei a sentir calor. Olhei para os lados e vi os passageiros tirando os casacos e blusões. Quanto mais o ônibus descia, contornando as montanhas, maior o calor. Depois de 35 quilômetros, estávamos a apenas 1.500 metros acima do nível do mar, no Valle del Chota (pronunciem tchôta, ok?). A paisagem havia mudado radicalmente: grudado na janela, eu via plantações de cana, café, banana e outras culturas tropicais. De quando em quando, choupanas com cobertura de palha. Era efeito do ácido ou havíamos chegado à África?

A explicação veio quando desembarcamos para uma parada de meia hora num povoado miserável à beira de um rio, e nos vimos cercados de negros, a maioria crianças. Trazidos pelos espanhóis no século XVII como escravos para substituir os índios, dizimados pelas jornadas de trabalho e as doenças trazidas pelos conquistadores, os africanos se fixaram no vale, uma das regiões mais pobres do Equador, por não se adaptarem ao frio do altiplano. Isolados, mantiveram intacta a sua cultura, e se tornaram conhecidos pela música e a dança de ritmo quente, semelhante à cúmbia colombiana. Quando viram o meu violão, as crianças perguntaram de onde éramos, e ficaram encantadas quando eu disse que éramos brasileiros. Sabiam mais da seleção e dos times do Brasil do que nós, e pediram para eu cantar alguma música de Roberto Carlos. Foi uma festa, que só acabou quando embarcamos para Tulcán,  89 quilômetros serra acima.

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