Susan Piper Johnson, a Piper, morava em Otavalo. Avançada, sabia tudo de tarô, de I Ching, de magia. Era jovem, alta, bonita, inteligentíssima, americana. A casa dela era toda transada. Íamos lá à noite, nos sentávamos no chão à luz de velas. Fumávamos, conversávamos baixinho, num clima de encantamento. Tudo era novo para mim. Calado, bebia cada palavra.
Piper decidiu comemorar em grande estilo, com seus amigos, a data nacional dos Estados Unidos. Fez reservas para seus convidados no hotel Americano, de Banõs, onde costumava passar temporadas. Estava namorando o Dedeco, e nos convidou.
O hotel, de três andares, era freqüentado só por estrangeiros. Apesar de ser muito simples, cobrava diárias caras demais para os equatorianos, que preferiam ficar em lugares mais confortáveis e baratos. Nos registramos, e o dono nos levou ao último andar, todo ele reservado para os convidados que não podiam pagar diárias. Era um salão com dezenas de camas, sem divisórias. Praticamente todo o hotel estava ocupado. A cozinha do hotel foi franqueada para os hóspedes, que nela preparavam as refeições.
A festa durou três dias, vinte e quatro horas por dia. Não havia horário para dormir ou acordar. Comíamos, bebíamos, rolava de tudo. Depois daquela comemoração, o 4th of July passou a ter um significado diferente para mim. Nada a ver com a independência americana...
Nenhum comentário:
Postar um comentário